domingo, 13 de abril de 2003

Que tal se acomodarem? Gostaria de contar uma história. Querem ouvir?


Era uma vez um ferreiro que chegou a uma vila perto de um grande castelo. Seu sonho era ter seu oficio reconhecido. Ofício esse herdado de seu pai, um guerreiro. Encontrou uma fornalha, pagou por ela e começou seu trabalho. A medida que suas marteladas ecoavam, a força primordial que o movia era recompensada. Muitas armas começaram a ser empunhadas de forma diferente desde sua chegada.

No castelo as batidas eram escutadas, e por serem derivadas de fora das muralhas uma grande atenção começou a chamar. Os ferreiros do Castelo fizeram-lhe visitas recheadas de criticas, sustentadas por inveja e discriminação. Mesmo após a visita as batidas não cessaram, contrariando a vontade do "castelo". Apesar das armas não serem mais tão reluzentes como antes, muitos ainda se interessavam e respeitavam seu trabalho. O castelo sem argumentos suficientes para bani-lo apenas o ignorava e procedia de forma contraria a bandeira que brandiam, com votos decorados de dignidade e cortesia. Mas eis que a guarda do castelo armada com línguas de cobra baniram do Reino um grande amigo desse ferreiro. O mesmo que oferecera sua casa para descanso na chegada do tal ferreiro. Uma triste tentativa de assassinar covardemente uma pessoa, que com certeza deixou bastante aprendizados para aqueles que a cercaram.

O ferreiro fechou suas portas, amargurado, mas continuou a trabalhar no seu oficio. Não mostrou mais suas armas, e parou de comentar com seus supostos "companheiros" de classe sobre suas grandes descobertas. Limitou-se apenas a pagar os impostos e permanecer em tais terras. O tempo passou e passou... Suas vitorias e derrotas na sua carreira tinham como testemunhas um grupo seleto de guerreiros e os espíritos ancestrais.

Com o passar das estações, o castelo foi visitado pelo Rei, que com uma Excelentíssima percepção escutou batidas ocas, como o som de um coração, vindas duma das fornalhas de seu povoado num de seus passeios noturnos. Ao enxergar Vossa Alteza, o ferreiro ajoelhou-se envergonhado de não ter nada a oferecer senão sua gratidão de estar ainda em suas terras, contrariando a vontade de sua corte real. Olhando as armas e a população a sua volta percebeu que tal ferreiro além de ser humilde apenas queria entender melhor o aço e o fogo. E ao contrário das más línguas honrava os votos da bandeira de sua nação. No mesmo instante recebeu um convite e perante todos os ferreiros do castelo foi enaltecido com o titulo de Artífice Real, ganhando uma grande fornalha.

Apesar do convite para viver sob a proteção das muralhas, o ferreiro recusou e continuou a sorrir como antes, com a diferença de que suas portas agora estavam abertas.


Em minha existência eterna conheci tal ferreiro, e seu coração certamente é a melhor arma que construiu.

Era o que esperava? Um final feliz? Então sorria para o ferreiro.

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