quinta-feira, 28 de novembro de 2002


Revirando a história em busca de um pretérito imperfeito encontrei as palavras que não soube entender no seu tempo.
Ah, a época da inocência, onde a dúvida era rapidamente abafada pela ignorância da vida.
Hoje, a mente corrupta planta dúvidas a cada hora e a areia da ampulheta é tão somente o escoar da sanidade e da esperança.

Será que essas palavras ainda ecoam no congelar do tempo. Será que elas ainda gritam num peito escarnecido, que não o meu?

A Maior Tortura - Florbela Espanca
(A um grande poeta de Portugal )

Na vida, para mim, não há deleite.
Ando a chorar convulsa noite e dia...
E não tenho uma sombra fugidia
Onde poise a cabeça, onde me deite!

E nem flor de lilás tenho que enfeite
A minha atroz, imensa nostalgia!...
A minha pobre Mãe tão branca e fria
Deu-me a beber a Mágoa no seu leite!

Poeta, eu sou um cardo desprezado,
A urze que se pisa sob os pés.
Sou, como tu, um riso desgraçado!

Mas a minha tortura inda é maior:
Não ser poeta assim como tu és
Para gritar num verso a minha Dor!

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