sexta-feira, 6 de junho de 2003

A muito tempo atrás...

Acabado um dos jogos do Brasil, no qual saímos vitoriosos lá estava eu com meus amigos na varanda de um apartamento tocando a maior zorra. Eu tinha por volta dos meus 16 anos. Daí que percebi na varanda do prédio a frente, mais precisamente no segundo andar,  um grupo de 3 mocinhas uns quatro andares abaixo do nosso. Não demorou e através de gritos e provocações mutuas elas estavam comemorando com a gente, e então a coisa começou a esquentar. Zoneiro de plantão que eu era, tive a brilhante idéia de sacanear as gurias mostrando todos a bunda. :) Tosco! Seis caras arriando as calças na varanda e mostrando a bunda, no meu caso dando até tapinhas. Resultado: As garotas ficaram gritando pedindo mais. Depois da histórica cena que ficou conhecida como "Luas da Rua Uruguai" percebemos o pai de umas das garotas indo até a varanda e nitidamente todas disfarçando. Ufa... ele não nos viu. Mal respirei aliviado quando olhei para alguns andares acima, e no sétimo andar vi uma varanda cheia de pirralhos. Eles comemoravam! Putz... foi horrível. Tá certo que eram crianças, mas quase acabaram com nosso "espírito de conquista". Continuamos e conseguimos uma espécie de troca, elas dançaram algumas músicas baianas de uma forma que nunca esquecerei.

Metido do jeito que era, peguei um papel e comecei a escrever um convite para elas. Digamos que fiquei bastante inspirado com a "performance" das mocinhas. Acabei de escrever a mensagem no papel, nos comunicamos com elas (numa linguagem tosca de sinais) e combinamos que levaríamos o papel ao prédio delas, e que uma desceria para pegá-lo. Escolhemos nosso cavaleiro intrépido e lá foi ele. Palavras de glória e força foram ditas a esse. Foi aí que vimos nosso sonho ruir. A garota que tinha saído para descer, voltou e sinalizou que não poderia descer. Olhávamos incrédulos para nosso fiel cavaleiro indo para a derrota. Ele entregou na portaria e voltou. Um silêncio rasgou a noite e nenhuma reação de ambos os lados. Nosso mensageiro voltou e chegou com cara de "atordoado" dizendo: "Vocês viram alguma criança no andar das garotas!?". Dois segundos depois fomos para a varanda e vimos 7 criancinhas se acotovelando para ler o bilhete. Ele disse que estava entregando o bilhete para o porteiro quando uma criança chegou e pegou o bilhete das mãos deles. SIM! As criancinhas do 7 andar. O MEU BILHETE ESTAVA SENDO LIDO POR CRIANCINHAS DE 7 A 10 ANOS. Minha patota começou a rir de desespero. Saímos todos correndo da varanda quando a mãe de uma delas pegou o bilhete e começou a ler. Não sabia aonde me esconder. E as mocinhas da varanda olhavam para gente tentando se comunicar e sem entender nada.

Um de nossos espiões ficou olhando escondido atrás das cortinas, e disse que a provável mãe tinha amassado o papel e jogado fora, depois de recolher as crianças para dentro. Bem, pelo menos um alívio. Foi aí que aconteceu o Milagre... Isso me fez lembrar aquela cena do jornal do filme Beleza Americana.Fomos para a varanda e vimos as três mocinhas com nosso bilhete nas mãos. Elas lá distantes de cabeça baixa, lendo o que eu tinha escrito. Um silêncio perdurava na cena com alguns fogos de artifício. Poderia ser para mim... para minha equipe. Tá certo que o Brasil estava na semi-final, mas um daqueles fogos foi para nós, tenho certeza. Gritamos que nem loucos comemorando. Como acreditar que aquele papel jogado sem pretensão pela mãe, seria levado pelo vento a varanda das mocinhas.

Não demorou e uma das garotas mandou um beijo para nós.  Com a mão pra cima comecei a dar o numero do telefone desse meu amigo.

Um momento depois...  "Alou! rsss rsss É do prédio aqui da frente. rrsss rsss  Quem escreveu o texto?"

Foi o garoto com a camisa do Brasil. ;)

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